1 de agosto de 2006

Cheguei ao estágio em que eu simplesmente empurro as coisas com a barriga. Não, eu não fico totalmente feliz com isso, mas é o melhor que eu posso fazer. É o último estágio antes da volta à velha forma.
Quando algo não sai do jeito que eu gostaria, do jeito que eu acredito que daria certo, eu faço isso.
Finjo por uns dias que eu não me importo, até que um dia isso vira verdade. Um dia. Pode demorar um pouco.

Eu queria ser do tipo que vai para festas e dá uns beijos em um estranho, que faz sexo casual com conhecidos, que não se envolve, que tem pretendentes ali, esperando a oportunidade. Mas não sou. Ontem conversando com um ex namorado meu, de quando eu tinha meus 15 anos, ele disse que eu me tornei uma pessoa mais interessante com o passar do tempo. Eu fiquei feliz, sabe? É legal ouvir essas coisas de uma pessoa que te conhece bem, que conviveu com você por um tempo considerável e suportou coisas que, se fossem comigo, não suportaria.
Mas acontece que eu não me sinto interessante o suficiente para que alguém se interesse por mim, sabe? Por isso que não existe a chance de me tornar uma dessas pessoas que descrevi. Se eu fosse homem, não ficaria comigo mesma.
Eu sou chata, neurótica, ciumenta, impulsiva. Tenho um coração mole e burro, guardo rancor, choro escondida e chega uma hora que eu explodo e acabo falando um monte de merda. Falo alto, minha risada é irritante. Não tomo vodka e sou uma bêbada chata chata chata. Danço esquisito, pareço uma louca quando ouço alguma música que gosto. Durmo demais, não atendo celular quando não tô afim, deixo meu quarto bagunçado pra caralho e odeio varrer a casa.
Não sou daquelas garotas que você vira o pescoço para olhar melhor, que você encara num bar ou chega numa festa. Não sou.
Talvez o "mais interessante" seja porque bem, eu amadureci. Cresci e agora já sou uma...mulher. Com um milhão de defeitos que me incomodam e com os quais eu não agüento mais ter de conviver.

Lendo um livro, me deparei com uma passagem bem interessante. O personagem é um completo imbecil, deprimido, idiota e que se acha durão. Vai ficar meio grande, mas foda-se.

"E minhas questões pessoais continuavam tão más e lamentáveis quanto no dia em que nasci. A única diferença era que agora eu podia beber de vez em quando, embora nunca o suficiente. A bebida era a única coisa que impedia um homem de se sentir para sempre atordoado e inútil. Todo o resto ia furando e furando sua carne, arrancando seus pedaços. E nada tinha o menor interesse, nada. As pessoas eram limitadas e cuidadosas, todas iguais. E eu teria que viver com esses fodidos pelo resto da minha vida, pensei. Deus, todos eles tinham cus e órgãos sexuais e bocas e sovacos. Cagavam e tagarelavam, e todos eram tão inertes quanto esterco de cavalo. As garotas pareciam legais a certa distância, o sol resplandecendo em seus vestidos, em seus cabelos. Mas vá se aproximar e ouvir seus pensamentos escorrendo boca afora, você vai sentir vontade de cavar um buraco ao sopé de uma colina e se entricheirar com uma metralhadora. Eu certamente nunca conseguiria ser feliz, me casar, nunca teria filhos. Inferno, eu nem mesmo conseguia um emprego como lavador de prato."

O meu medo é que só pessoas como Mr. Chinaski queiram algo mais do que garotas com vestidos respladecendo ao sol e cabelos bonitos.